quarta-feira, 19 de março de 2008

Obituário: Capitão América... e o "Sonho Americano"?

Uma Guerra sem Capitão
Neste mês, as bancas brasileiras receberam um dos acontecimentos mais impactantes dos quadrinhos atuais: a morte do Capitão América, publicada aqui pela Panini Comics na revista Os Novos Vingadores # 49.

A derradeira aventura de um dos maiores ícones da Marvel Comics é conseqüência da saga Guerra Civil, maior evento editorial da “Casa das Idéias” nesta década. A história principal foi contada em uma minissérie de sete partes, escrita por Mark Millar e desenhada por Steve McNiven. Os títulos mensais, por sua vez, mostravam a repercussão dos fatos para a vida particular de cada herói ou equipe.

A trama de Guerra Civil gira em torno da criação, nos Estados Unidos, da Lei de Registro de Super-Humanos. O ato obriga todos os humanos com superpoderes a se cadastrarem junto ao governo, sendo obrigados a revelar sua identidade secreta e encaminharem-se para um programa de treinamento, a fim de exercerem funções em órgãos de segurança oficiais.

Tomando uma conotação bastante política, a história divide os heróis em grupos contra e a favor da nova lei. Tony Stark, o Homem de Ferro, encabeça os apoiadores do registro. O Capitão América, por sua vez, lidera a resistência contra o ato, entrando para a clandestinidade.

... e um Capitão sem guerra
Se você não é muito ligado em quadrinhos ou não os acompanha ultimamente, pode ter estranhado uma coisa no parágrafo anterior. Afinal, porque raios o Capitão América, vulgo bandeiroso, herói e ícone máximo da nação estadunidense, resistiria a um ato pela “lei e pela ordem”? Pior ainda: virando um clandestino, fora-da-lei, persona non grata, most-wanted!?!

Eis onde resiste a mágica da excelente safra de histórias recentes do Capitão. O aclamado escritor Ed Brubaker (Demolidor; Gotham City Contra o Crime) conseguiu imprimir uma inédita profundidade à saga de Steve Rogers. Em suas mãos, o bandeiroso é sim, uma figura icônica, representante do tão falado (e pouco discutido) sonho americano. O grande questionamento, porém, se dá quando o herói é perseguido por um dilema: como ser um soldado fiel a seu país, se uma política adotada de repente em seu país parece flertar com o totalitarismo e ir contra os próprios ideais sobre os quais a nação foi fundada? O Capitão deve servir ao governo que jurou obedecer ou aos ideais de democracia e liberdade que ultrapassam esta ou aquela gestão, compondo o próprio imaginário de seu povo?

Ah! E tem um mais um detalhe. Muito importante, aliás. É que a tais dúvidas soma-se um fato inegável, decisivo: o Capitão América é um anacronismo.

[Atualização: Memo - Origem - Durante a Segunda Guerra Mundial, o jovem recruta Steve Rogers se voluntariou como cobaia para um experimento do Exército: o Soro do Supersoldado. A substância transformou o franzino rapaz na mais perfeita máquina de combate dos EUA: o Capitão América. Depois de ajudar os aliados a vencer o conflito, o Capitão dedicou-se a combater o crime, até o dia em que desapareceu em missão e foi dado como morto. Nos dias atuais, Steve foi encontrado congelado, em animação suspensa, e reanimado pela super-equipe Os Vingadores, ao lado da qual combate o crime].
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Um soldado da Segunda Guerra Mundial, que de repente se vê no caos globalizado contemporâneo. Para ele, nunca foi tão difícil escolher quais decisões tomar. Isso porque Steve sabe que as implicações de seus atos podem gerar inúmeras e diferenciadas conseqüências. Para o mundo e para sua consciência.

Steve Rogers representa uma época em que, para um jovem idealista americano, era mais fácil decidir que rumo tomar na vida. Afinal, de um lado ele possuía toda a ideologia de aparente liberdade individual e democracia que criara sua identidade, enquanto no outro front o nazismo se apresentava como um sinistro inimigo a ser combatido.

O totalitarismo do Reich despersonificava o povo, que era nada mais que um instrumento do personagem maior, o Estado. Neste contexto era fácil, para um soldado aliado, enxergar no inimigo como algo pouco além de uma personificação do mal, cujo rosto praticamente confundia-se com o de Adolf Hitler.

Por todos esses motivos, percebe-se que tanto a trama de Guerra Civil quanto do título-solo do herói são desenvolvidas de tal maneira que o desfecho apresenta-se como uma das poucas, senão a única, solução plausível.

"A Morte do Sonho"

Este é o representativo título da história, cujo principal acontecimento é narrado logo na primeira parte. Nada de supervilões, monstros gigantes ou clones descontrolados. O Capitão América tomba indefeso, vítima de uma covardia desproporcional ao heroísmo que se espera anteceder à morte de um guerreiro. Agoniza nas escadarias de um tribunal de Nova York, diante das câmeras da TV. Tosco? Só se você espera "mais do mesmo" nas histórias de super-heróis, ou seja: pancadaria irracional, corpos anabolizados, roteiro raso. Não é o que se vê aqui. Pelo bem da nona arte.

Brubaker opta por uma história focada nos personagens secundários. As lembranças de cada um e a visão do público, sob a perspectiva do jornalismo, marcam a trama. A arte de Steve Epting, soberba, imprime seriedade e verossimilhança à narrativa, cujo impacto visual é marcante.

Enfim, "A Morte do Sonho - Parte Um" foi uma surpresa muito bem-vinda. Eu, que estava há um bom tempo sem acompanhar as séries mensais de heróis, não imaginava que encontraria um sopro de criatividade e qualidade justamente no Capitão América. Digo isso, porque é destes personagens que o pessoal dito politizado adora odiar (stazunids, indústria cultural e tal). Mas, no final das contas, representa valores autênticos e talvez careça somente de boas idéias e novas contextualizações.

Os Novos Vingadores # 49
Apresentando:
"A Morte do Sonho - Parte Um"
Roteiro: Ed Brubaker
Arte: Steve Epting
R$ 7,50

E mais: Novos Vingadores, Illuminatti e Miss Marvel (legaizinhas também, mas nem estou a fim de falar...)



3 comentários:

Pedro disse...

Diegão,
Eu ando desanimado com quadrinhos.
Principalmente americanos... NEM SE FALA ENTÃO no Capitão América.
Eu nunca gostei dele. Quando eu era pequeno eu achava ele sem poderes legais e aquele A na testa ridículo. Depois eu nem quis mais saber por causa do sonho americano hehe.
Por que a gente deve ler Marvel e DC ainda?
Depois do Lobo Solitário eu não acho graça nisso mais, ainda mais que as histórias são complexas, sem fim E MUITO caras.
Tudo bem, vc pode me responder com argumentos fodíssimos como sempre mas eu não sei não... Faz tempo que nenhum quadrinho que vem sendo publicado me anima (tirando Sandman, é claro)

Diego Araújo disse...

Eu entendo demais sua revolta of Fire, caro Pedro James. Ainda mais porque você acompanhou "Lobo Solitário" que pra mim, não é só um dos melhores quadrinhos de todos os tempos, mas é uma das leituras mais espetaculares que já fiz.

Quanto aos quadrinhos americanos, realmente você precisa ter um pouco de paciência caso queira acompanhar, principalmente heróis. Há muita coisa sendo editada, grande parte dela não vale nosso rico dinheirinho.

Mas quer meu conselho? EXPERIMENTE!

Há uma nova safra de escritores excelentes, como: Mark Millar, Ed Brubaker e Brian Bendis. Além disso, temos os "veteranos" que seguem produzindo com muita qualidade: Kurt Busiek, Grant Morrison, Jeph Loeb, Geoff Johns, Richard Donner (o diretor do 1º filme do Superman, e que escreve com o Busiek a atual fase do azulão);

Não se importe especificamente com esse ou aquele personagem. Seguir esses caras é satisfação garantida!

Pra mais consultas, é só falar comigo (e sem vc gastar um tostão, te passo umas coisas bacanas. Até mesmo pq preciso acabar de ler seus "Lobo Solitário", hehe).

nalanyjadwin disse...

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